sábado, 29 de junho de 2013

E não larga nunca mais.


  Segura na minha mão. Me diz os teus problemas que eu te falo a solução. Segura na minha mão, me conta os teus medos que eu te mostro como sair da escuridão. Segura. E não larga. Segura na minha mão e confia em mim, mesmo sem me conhecer. Segura na minha mão e deixa eu cuidar de você. Segura na minha mão e me agarra para eu nunca mais te perder.
  Segura na minha mão. Olha nos meus olhos. Me encara. Me beija. E aproveita que é quarta-feira. O domingo ainda não chegou. Segura, me agarra forte e diz mais uma vez que estamos juntos. Distantes, mas juntos. Me faz mulher. Me faz chorar. Me faz sentir algo que há muito tempo eu não sinto. Quebra essa armadura que tá em volta de nós dois e me abraça. Me faz carinho.
  Eu não te conheço e nem você me conhece. Somos dois estranhos que se amam. Estranho mesmo seria se fôssemos dois conhecidos que não se amam.
  Então segura. E não larga nunca mais.


                                                                                                                 Lucas Sales(modificado)


O que me dói não é preço da vida 
Que está pela hora da morte.
O que me dói não é arrancar a casca da ferida
Causada por aquele corte
Quando cai de bicicleta
Quando sangrei abrindo a lata de Champion
Quando furei a orelha direita
Disposto a mudar de visual.

O que me dói não é essa cárie, que surgiu no meu dente
O que me dói não é o preço do pão
O que me dói não é a fome do indigente
Sentado na frente da minha mansão.
O que me dói não é sair sem destino
O que me dói não é não ter mais a tua mão
Me afagando, devagarinho
Preenchendo o meu coração.

O que me dói não é lembrar o passado
O que me dói não é ouvir a nossa canção
O que me dói não é me sentir acabado
Derrubado pela solidão
Que invadiu minha casa
Desde que você me deixou
Que abriu as minhas gavetas
E por todos os cantos se alojou.

O que me dói não é sentir teu perfume
Na pele de alguém, quando pego o metrô
O que me dói não é ter que mudar meus costumes
O que me dói não é saber mais para onde vou.
O que me dói não é abrir meu e-mail
E ver que teu e-mail ainda não chegou.
O que me dói não é me sentir partido ao meio
Desde que você me abandonou.

O que me dói não são os dias de verão
Que planejei ao teu lado no Arpoador
O que me dói não é a Primavera
Que não floresceu por falta do teu amor
O que me dói não é melancolia do outono
Nem o inverno que me machucou.
O que me dói não é o teu telefonema
O teu bilhete, o teu torpedo
O teu sinal de fumaça que nunca chegou.

O que me dói não é tanta gente feliz
Se amando, grudada, aos beijos
Na fila do cinema, na escada rolante, na praia, no elevador
O que me dói não é me mudar para Paris
E constatar, que em qualquer lugar você está comigo.
O que me dói não são as porradas da vida
Não é não ter mais cinco anos
Onde o maior dilema nessa idade, é ficar duas horas de castigo.
O que me dói não é essa saudade
Que me deixa incompleto e desprotegido.

O que me dói não é ter que continuar
Não é ser o único a saber que morri
Embora todos achem que ainda vivo.
O que me dói não é ter a certeza que o tempo vai passar
E lá frente, ainda não terei te esquecido.
O que me dói não é tudo perder a graça
E nada mais ser colorido
Como um filme em preto e branco
Com um carneiro, sem sal, mal cozido
Viver se tornou indigesto
Mas não é isso que me deixa em desabrigo.

O que me dói não é compor esse verso
Não é esse mundo instável, descartável, complexo
Onde tudo parece ser efêmero
Onde uma hora, tudo chega ao fim.
O que me dói é só uma coisinha:
Por mais que eu grite, que eu chore
Querendo de volta sua companhia
Não adianta.
Você nem sem lembra mais de mim.

                                                                 Herton Gustavo